sexta-feira, 20 de julho de 2012

O bába parte 3

Ninguem acreditava no que tinha acontecido, mas era verdade... Tadeu tinha feito xixi na cabeça de Guinho e para deixar a coisa ainda mais feia, Tia Iza já estava indo ao nosso encontro para levar Guinho a uma festa de aniversário.

Para meu pai, eu como irmão mais velho tinha toda a responsabilidade sobre o meu irmão mais novo, mas era impossível alguem controlar Tadeuzinho. Sempre que ele aprontava, se eu estivesse por perto, eu ficava de castigo junto com ele. E o pior era que, além de eu pagar por algo que não cometi, Tadeu ainda ficava dando risada de minha cara. Ver aquela risadinha de maquiavélico dele era pior que o castigo dado por meu pai. Com tanta experiência adquirida, a minha estratégia para não pegar o castigo era correr o mais distante possível da cena do crime, mas naquele momento eu não tinha mais como fugir, pois Dona Zélia estava de prontidão na janela e presenciou todo o acontecimento.

Para o Chaves existia a Bruxa do 71, para a galera do Bloco 80 existia Dona Zélia do 79. Dona Zélia era uma senhora muito querida por nossos pais. Sempre que a galera estava se divertindo, ela estava lá acompanhando tudo e se algo de errado acontecia, ela mesmo corrigia. Dona Zélia tinha algo que nos impressionava e ao mesmo tempo nos amedrontava, algo como super poderes, e os que mais se destacavam eram o da multiplicação e o da visão. Dona Zélia conseguia estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Com frequência ela era vista tanto em uma das janelas da frente do prédio como na janela que dava para os fundos. E mesmo quando não estava em uma das janelas, ela tinha o poder de ver tudo que acontecia. 

Quando Tia Iza chegou, Dona Zélia logo gritou:

- Foi o de Waaaaagner, Iza! Desse aí a gente espera qualquer coisa!

Após ouvir aquele comentario, mesmo com 7 anos de idade, me bateu um momento de reflexão. Para que serviam nossos nomes afinal? Todos os adultos nos conheciam por epitetos e quando tentavam chamar pelos nomes de tanto não chamarem erravam. Eu era conhecido como "O mais velho de Wagner". Será que era mais fácil falar "O mais velho de Wagner" do que simplesmente Tairone? Tadeu era conhecido como "O mais novo de Wagner", Andrevan como "O de André". Seu André tinha outros filhos mas a diferença de idade tornava Andrevan o único filho, Guinho como "O de Osmário" e assim por diante... Mas mesmo assim ser chamado por "O mais velho de Wagner" acabava me dando um certo status, pois a palavra mais velho nessa época era sinal de respeito e não só Tadeu era obrigado a me respeitar como Andrevan, Guinho, Alan... Fernando como o mais velho da turma era o mais respeitado. Porém quando os adultos arriscavam chamar-mos pelos nosso nomes era um desastre, sempre erravam. Me chamavam de Tadeu e chamavam Tadeu de Tairone, mesmo quando nós 2 estavamos presentes. Só chamavam Andrevan de Andrenei e Marquinhos de Claudinho.

Ao ser acusado Tadeu se esquivou na mesma hora:

- Num foi eu nada, foi Alan. A senhora não gosta de mim!

Quando Dona Zélia, já resolvendo o problema de Tia Iza,  retrucou:

- Menino, você além de abusado ainda é mentiroso. Vou falar com o seu pai!

Daquele castigo a gente não tinha mais como escapar. Passaram-se apenas 2 minutos dentro daquele quarto com a porta e janela fechadas, mas a impressão era de que estavamos 1 semana lá dentro.  Eu na minha cama olhando para a cara de Tadeu e bolando uma forma de me vingar, e ele olhando para mim na maior felicidade do mundo porque não estava de castigo sozinho. Além de nós 2 no quarto só tinham minhas 7 bolas chuveirinho. Eu trocaria aquele castigo por qualquer coisa e passados mais 2 minutos eu não resisti ao sofrimento e apelei para meu pai:

- Painho, painho, painho... eu não aguento mais.

Meu pai com o coração mole, que não conseguia ver um passarinho preso numa gaiola,  respondeu:

- Vocês não tem nem 5 minutos de castigo. Parem de reclamar!

Continuei apelando para o meu sofrimento:

- Eu não aguento mais painho... eu vou morrer aqui dentro...

Quando Tadeu aproveitou a oportunidade:

- Painho eu não estou conseguindo respirar...meu coração ta doendo...só fiz xixi porque tava apertado e quando Guinho apareceu não dava mais para segurar.

Meu Pai já aceitando nosso sofrimento e a desculpa de Tadeu concluiu:

- Tadeu você respira pelo pulmão e não pelo coração. Vou tirar vocês do castigo mas se eu ouvir mais alguma reclamação, vocês voltam para o castigo e vão levar 10 bolos de chinela em cada mão.

Aquela queda do castigo parecia com a nossa entrada de férias escolares. Eu já tinha um plano para descontar aquele castigo que Tadeu tinha arranjado, mas não ia poder usar naquele momento pois eu corria o risco de voltar pro castigo.

Peguei uma bola chuveirinho, abri a porta de casa e corri de encontro aos meus amigos... 






2 comentários:

  1. que memória de elefante é essa, velho?? tô me pocando de rir aqui e lembrando vagamente do sacana do tadeu mijando na minha cabeça... rsrs

    ResponderExcluir
  2. ehehehe ele que me lembrou Guinho, se lembra alguma dele me mande...

    ResponderExcluir