segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O bába parte 4

- Jáaaaaa.

Gritou Andrevan ao me ver aperecer na esquina do prédio, não acreditando no castigo de 5 minutos que meu pai tinha me dado. Respondi:

- Essa foi por pouco. Vamos pegar um bába?

Vocabulário:
1. Bába é o termo utilizado para jogar bola na Bahia, o mesmo que pelada. Também é um termo utilizado para pertubar os travestis quando estão disfarçados de mulheres, basta gritar "Vamos pegar o bába João" para eles ficarem nervosos.

A galera toda se empolgou. Aquela seria a nossa estréia nas quadras do condominio.

O Rodrigo Horácio era dividido por quadras, ao todo eram 5 quadras e cada quadra era cercada por vários blocos. As quadras para os adultos serviam de estacionamento para os carros, mas para a criançada eram estádios de futebol, quadras de voleibol, pistas de skate e de ciclismo, praças de encontros, campos de guerra, ... era o ponto de encontro para a prática de esporte e para a diversão. Apesar do condominio ser um só, a divisão em quadras acabava formando grupos de meninos com caracteristicas próprias. Cada quadra tinha suas caracteristicas especiais e seus grupos dominantes.

Estavamos todos eufóricos para pegar o primeiro bába, e eu como dono da bola e por consequência do bába dei as coordenadas:

- Galera vamos falar baixo para ninguem atrapalhar e dividir a galera em 2 times!

Quando uma voz dobrando a esquina me interrompeu.

- Eu também vou, senão falo para o meu pai que você não quer brincar comigo!

Era Tadeu pelado com uma cueca na mão, indo de encontro a minha mãe para ajuda-lo a vesti-la. Tadeu não sabia vestir a própria cueca, mas achava que sabia jogar bola.

Fernando resmungou de primeira:

- Se Tadeu jogar eu não jogo.

Mas Tadeu não se deu por abatido:

- Então não jogue, a bola é de meu irmão.

Eu para fugir de qualquer confusão, coloquei em votação:

- Quem quer que Tadeu jogue levante a mão!

E naquele momento vendo que Tadeu era voto perdido tive que tomar uma atitude.

- Tadeu você vai ser o segundo goleiro. Se a bola passar pelo primeiro você pega ela.

Nas regras atuais o segundo goleiro é o gandula. Quando Tadeu, feliz com sua nova atribuição, perguntou:

- Quem é o primeiro goleiro?

Naquele momento ainda não tinhamos dividido os times, quando a cigarra do portão elétrico do Bloco 79 disparou. Era Mário vindo ao nosso encontro com uma camisa de manga comprida, short curto, joelheira de skatista e luvas de goleiro. Estavamos todos impressionados com aquela preparação, quando ele se pronunciou:

- Pode deixar que eu sei agarrar.

Ninguem estava acreditando, quando Mario insistiu:

- Eu sou o goleiro da minha sala no Monte.

Monte Carmelo era a escola mais próxima do condominio, onde quase todos da galera estudavam, quer dizer frequentavam ...

Com muita desconfiança, eu sugeri:

- Mario para você ser o goleiro vai ser necessário passar por um teste.

Mario meio preocupado, meio entusiasmado, topou sem hesitar. Coloquei a bola na marca do penalti e me preparei para a cobrança. Mario estava concentrado, os olhos penetravam a bola demonstrando toda a vontade de agarra-la e matar a desconfiança que prevalecia naqueles olhares ao seu redor. Ele sabia que precisava dar o que tinha de melhor para agarrar aquela chance e realizar o sonho de ser o goleiro numero 1 do bloco 80. Contra ele, além de todos os pensamentos negativos, ainda existia a minha técnica apurada para cobrança de penalti, nunca havia perdido um naqueles 7 anos. Corri em direção a bola e bati suavemente com a palma do pé.

Mário pulou em direção a bola com toda a vontade que um verdadeiro goleiro se dispõe a fazer e por questões de 2 metros de distancia, não alcançou a bola. Aquele esforço dele impressionou a todos nós e antes que eu chegasse para lhe cumprimentar, ele levantou cabisbaixo e com os olhos cheios de lágrimas começou a voltar em direção a sua casa. Aquela cena comoveu a todos da galera e nos nossos olhares dava para perceber que aquela vaga era incontestavelmente de Mário, que todo aquele esforço merecia ser reconhecido. Quando interrompi a sua saída:

- Mário você é o goleiro número 1 do bloco 80.

Mário parou de andar, virou em minha direção e soluçando me respondeu:

- Eu não jogo mais nessa quadra...

Com o braço e a perna ensanguentada abriu o berreiro:

- Ta doeeeeeeendo...





sexta-feira, 20 de julho de 2012

O bába parte 3

Ninguem acreditava no que tinha acontecido, mas era verdade... Tadeu tinha feito xixi na cabeça de Guinho e para deixar a coisa ainda mais feia, Tia Iza já estava indo ao nosso encontro para levar Guinho a uma festa de aniversário.

Para meu pai, eu como irmão mais velho tinha toda a responsabilidade sobre o meu irmão mais novo, mas era impossível alguem controlar Tadeuzinho. Sempre que ele aprontava, se eu estivesse por perto, eu ficava de castigo junto com ele. E o pior era que, além de eu pagar por algo que não cometi, Tadeu ainda ficava dando risada de minha cara. Ver aquela risadinha de maquiavélico dele era pior que o castigo dado por meu pai. Com tanta experiência adquirida, a minha estratégia para não pegar o castigo era correr o mais distante possível da cena do crime, mas naquele momento eu não tinha mais como fugir, pois Dona Zélia estava de prontidão na janela e presenciou todo o acontecimento.

Para o Chaves existia a Bruxa do 71, para a galera do Bloco 80 existia Dona Zélia do 79. Dona Zélia era uma senhora muito querida por nossos pais. Sempre que a galera estava se divertindo, ela estava lá acompanhando tudo e se algo de errado acontecia, ela mesmo corrigia. Dona Zélia tinha algo que nos impressionava e ao mesmo tempo nos amedrontava, algo como super poderes, e os que mais se destacavam eram o da multiplicação e o da visão. Dona Zélia conseguia estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Com frequência ela era vista tanto em uma das janelas da frente do prédio como na janela que dava para os fundos. E mesmo quando não estava em uma das janelas, ela tinha o poder de ver tudo que acontecia. 

Quando Tia Iza chegou, Dona Zélia logo gritou:

- Foi o de Waaaaagner, Iza! Desse aí a gente espera qualquer coisa!

Após ouvir aquele comentario, mesmo com 7 anos de idade, me bateu um momento de reflexão. Para que serviam nossos nomes afinal? Todos os adultos nos conheciam por epitetos e quando tentavam chamar pelos nomes de tanto não chamarem erravam. Eu era conhecido como "O mais velho de Wagner". Será que era mais fácil falar "O mais velho de Wagner" do que simplesmente Tairone? Tadeu era conhecido como "O mais novo de Wagner", Andrevan como "O de André". Seu André tinha outros filhos mas a diferença de idade tornava Andrevan o único filho, Guinho como "O de Osmário" e assim por diante... Mas mesmo assim ser chamado por "O mais velho de Wagner" acabava me dando um certo status, pois a palavra mais velho nessa época era sinal de respeito e não só Tadeu era obrigado a me respeitar como Andrevan, Guinho, Alan... Fernando como o mais velho da turma era o mais respeitado. Porém quando os adultos arriscavam chamar-mos pelos nosso nomes era um desastre, sempre erravam. Me chamavam de Tadeu e chamavam Tadeu de Tairone, mesmo quando nós 2 estavamos presentes. Só chamavam Andrevan de Andrenei e Marquinhos de Claudinho.

Ao ser acusado Tadeu se esquivou na mesma hora:

- Num foi eu nada, foi Alan. A senhora não gosta de mim!

Quando Dona Zélia, já resolvendo o problema de Tia Iza,  retrucou:

- Menino, você além de abusado ainda é mentiroso. Vou falar com o seu pai!

Daquele castigo a gente não tinha mais como escapar. Passaram-se apenas 2 minutos dentro daquele quarto com a porta e janela fechadas, mas a impressão era de que estavamos 1 semana lá dentro.  Eu na minha cama olhando para a cara de Tadeu e bolando uma forma de me vingar, e ele olhando para mim na maior felicidade do mundo porque não estava de castigo sozinho. Além de nós 2 no quarto só tinham minhas 7 bolas chuveirinho. Eu trocaria aquele castigo por qualquer coisa e passados mais 2 minutos eu não resisti ao sofrimento e apelei para meu pai:

- Painho, painho, painho... eu não aguento mais.

Meu pai com o coração mole, que não conseguia ver um passarinho preso numa gaiola,  respondeu:

- Vocês não tem nem 5 minutos de castigo. Parem de reclamar!

Continuei apelando para o meu sofrimento:

- Eu não aguento mais painho... eu vou morrer aqui dentro...

Quando Tadeu aproveitou a oportunidade:

- Painho eu não estou conseguindo respirar...meu coração ta doendo...só fiz xixi porque tava apertado e quando Guinho apareceu não dava mais para segurar.

Meu Pai já aceitando nosso sofrimento e a desculpa de Tadeu concluiu:

- Tadeu você respira pelo pulmão e não pelo coração. Vou tirar vocês do castigo mas se eu ouvir mais alguma reclamação, vocês voltam para o castigo e vão levar 10 bolos de chinela em cada mão.

Aquela queda do castigo parecia com a nossa entrada de férias escolares. Eu já tinha um plano para descontar aquele castigo que Tadeu tinha arranjado, mas não ia poder usar naquele momento pois eu corria o risco de voltar pro castigo.

Peguei uma bola chuveirinho, abri a porta de casa e corri de encontro aos meus amigos... 






quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O baba parte 2

Eu era o cabeça da turma e depois daquele aniversário viraria o dono do bába. Despertei:

- Galera quem topa?

Mesmo sem saber o quê, Tadeu gritou logo:

- Eu sou o primeiro!

Guinho para não deixar por menos retrucou:

- De novo Tadeu? Toda hora você quer ser o primeiro. Dessa vez sou eu!!!

Antes que a confusão fosse criada eu me antecipei:

- Bate Par ou Impar!

Na disputa, Tadeu esperou Guinho colocar a mão primeiro e com isso levou a melhor, mas Andrevan como sempre se intrometeu:

- Tadeu você tá roubando!!!

Fernando para aumentar a pilha gritou de lá:

- Tadeu ninguem merece você. Guinho é que ganhou!!!

Guinho começou a ficar nervoso, quando eu me envolvi novamente.

- Relaxe galera, é só uma brincadeira. Tadeu deixe Guinho ir primeiro.

Tadeu zangado respondeu:

- Só porque eu sou pequeno. Qualquer dia pago um pivete do mercado para pegar vocês.

Para mudar o clima de tensão, eu dei a brincadeira:

- Vamos dar uma broca no toldo de Dona Estela?

A galera se empolgou e todos gritaram:

- Boraaaa ehehehehehehe

Vocabulário:
1. Broca é o mesmo que um pedala Robinho, um Péba, um se liga mané...
2. Toldo é uma cobertura colocada na porta de entrada de alguns edifícios para proteger os moradores da chuva ou do sol. É mais útil para as mulheres quando levam alguns minutos procurando a chave dentro da bolsa e nos casos onde crianças como Tadeu atiram ovos ou papel higiênico molhado contra os visitantes.

Continuei organizando a brincadeira:

- Guinho a tarefa é a seguinte: você vai correndo bate no toldo, dá o gritão "Dona Esteeeeeela", desce pelo jardim e se esconde que a gente vai ficar te esperando aqui. Depois é a vez de Tadeu!!!

Guinho já estava preparado quando gritei:

- Vaaaai Guinho!

A galera ficou toda apreensiva porque se algo desse errado, Dona Estela, ia bater na porta da casa de cada um para reclamar aos nossos pais. Mas como eu já havia treinado com Guinho em outras ocasiões eu confiava nele.

Guinho fez tudo direitinho, correu por debaixo da janela de Dona Estela, deu um tapão no toldo, pulou o jardim e ficou escondido esperando por Tadeu. A galera toda achou o máximo. Dona Estela como já estava acostumada com nossas pertubações ficou na tocaia esperando pelo próximo e o próximo era Tadeu.

Eu percebi que ainda não era hora de Tadeu ir, mas antes que eu o segurasse, ele já tinha disparado em direção a cena do crime.

Já estavamos todos preparados para a bronca, mas ela tardava em vir... 3 minutos, 4 minutos, 5 minutos e nada. Aquele percurso na velocidade de Daniel e Fernando, os mais lentos da turma, levava menos de 2 minutos, já tinham passados mais de 5 minutos e nada da voz de Dona Estela chegar aos nossos ouvidos. Quando de repente a voz de Guinho nos alertou:

- Galera tá começando a chover, vamos entrar no prédio?

Tinha algo de errado com aquela colocação de Guinho. O céu mostrava o mais belo dos azuis e o sol refletido pelo brilho dos carros indicava que aquele domingo ia ser de muita praia e calor. A palavra chuva não caia bem naquele momento, o que nos fez ir de encontro a Guinho na parte de baixo do jardim.

Ao chegarmos ao jardim encontramos Guinho todo molhado e também as respostas para nossos questionamentos. As lágrimas de Guinho indicavam que ele já sabia que não haveria chuva naquele dia e que ele havia encontrado o pior pesadelo do seu inicio de vida... Sobre ele estava Tadeu...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O baba parte 1

O despertador tocou lá em casa, como em todos os últimos domingos daqueles 2 anos, era Marinho quando meu pai foi atender a porta:

- Tio, Tairone ou Tadeu já acordou?

Meu pai ainda com uma cara de ressaca da festa que havia terminado às 3 da manhã respondeu:

- Ôôôô Mário, 7 horas da manhã ainda é cedo para esses meninos. Já falei com eles que precisam acordar cedo para aproveitar o dia, mas você conhece seus amigos. Quando eles acordarem eu aviso que você já está brincando.

Mário um pouco indignado com a notícia recebida, seguiu sua rotina de todas as manhãs de domingos.

A campanhia tocou na casa de Andrevan, quando Seu André - na Bahia em vez de Senhor é usado o termo Seu e Dona - atendeu:

- Bom dia Marinho, o que aconteceu de tão urgente?

Marinho sorrindo respondeu:

- Bom dia Seu André, não é nada demais não, eu só queria saber se Andrevan já pode brincar comigo.

Seu André já acostumado com aquela situação brincou:

- Ahhh Marinho, Andrevan só acorda tarde, eu vou correr na praia, volto para casa e ele ainda está dormindo. Volte mais tarde que seu amigo é muito preguiçoso.

Mário ainda com esperança de poder resenhar sobre a festa do dia anterior com alguem da galera naquele domingo ensolarado seguiu sua rotina. Foi na casa de Guinho e na casa de Alan e obteve a mesma resposta, ambos estavam dormindo. Por último foi na casa de Fernando.

Fernando morava no térreo do bloco 79, o que tornava mais fácil o acesso a ele. Bastava chegar em baixo da janela do seu quarto e bater na janela ou dar um gritão que ele acordava. Aquele acesso a Fernando era uma tentação para Mário e todos da turma, pela manhã, à tarde, à noite e até na madrugada a gente queria chamar ele. Porém quem investisse contra o seu sono teria que estar preparado para o bem ou para mal. Fernando era o mais bruto da turma, se ele estivesse de mal humor o estrago por acordar ele era muito grande.

Mário estava tentado à acordar Fernando, mas quando lembrou do domingo anterior, que levou um jato de água na cabeça, desistiu, voltou para casa e foi jogar video game.

No Rodrigo Horácio cada dia da semana tinha a sua própria rotina e o domingo tinha a melhor delas. Mário era o primeiro a acordar, 2 horas depois era a vez de Fernando abrir as janelas do seu quarto e com uma sequencia de assobios irritantes acordar toda a turma. Bastava um fifiiiiio para todos da turma bater continencia em suas respectivas janelas, e se alguem não se apresentasse, em alguns minutos uma sequencia de caroços de feijão eram lançados contra sua janela. Aqueles assobios de Fernando eram irritantes e Andrevan para não ficar por baixo sempre contra-atacava escovando os dentes na janela. Aquela cena de Andrevan escovando os dentes e sorrindo ao mesmo tempo ficaria marcada para sempre nas nossas memórias.

Marcos era o primeiro a pedir licença da janela para iniciar seu ritual de café da manhã. Começava o café antes de todos da turma e quando terminava a galera já estava subindo para o almoço. Já Guinho era contra tomar café da manhã, mas Tia Iza, sua mãe, não concordava e para convecê-lo a mudar de idéia era necessário convocar Tadeu até sua residencia. Tadeu era um exemplo para todos nós de diciplina nas refeições, quem via ele comendo tomava aquela cena como uma lição: "Se você der bobeira Tadeu come sua refeição". Como Tia Iza sabia que bastava alguns minutos de amizade para eles se tornarem inimigos mortais, Guinho era obrigado a tomar seu café só para não deixar que Tadeu o devorasse.

Em poucos minutos depois de acordar já estavamos todos em baixo reunidos para a diversão...


sábado, 8 de outubro de 2011

O Dom parte final

A festa estava chegando ao final e naquele momento enquanto todos se divertiam com muita música, refrigerantes, doces, salgados e pãezinhos - na Bahia em todos os aniversário tem um pãozinho que dificilmente é encontrado em outros estados do Brasil, denominado pãozinho delicia ele não entra nem na categoria de salgados nem de doces, ele é apenas Pãozinho - eu começava a fazer a contabilidade da festa.

Antes da festa começar eu tinha certeza de ganhar pelo menos 20 presentes e com essa quantidade a chance de ganhar meu tão esperado presente era altíssima, porém as coisas não andaram como eu havia planejado. Até aquele momento eu tinha 1 LP de Sidney Magal, 1 linda camisa, 5 bolas chuveirinho que somando davam 7 presentes e uma linda lição que eu levaria para o resto da minha vida: de alguns a gente espera um peba e ganha um LP, de outros a gente espera um presente e não ganha nada, é melhor um peba do que um nada.

Eu já como um grande torcedor do Bahia esperava o apito final, pois é próximo a ele que estão guardadas as maiores emoções do tricolor de aço, quando meu pai olhou para o relógio e com o apito já na boca ouviu o tocar da campanhia. Nenhum convidado naquela festa acreditava que naquela hora ainda poderia aparecer mais algum convidado, mas eu acreditava e estava certo. Ao longo das escadas surgiam Marquinhos e seu primo Alexandre que estavam chegando para fechar a festa e para minha surpresa cada um com um presente na mão.

Marquinhos morava no apartamento acima do de Rodrigo e Alexandre estava iniciando as férias de 2 anos na casa de Tio Chico, pai de Marquinhos. Naquele dia Dona Lucia havia saido para jantar com Tio Chico, e Marquinhos ficou com a responsabilidade de se alimentar. Aquele era um momento raro na vida de Marquinhos e ele queria aproveitar ao máximo aquela oportunidade e aproveitou. Aproveitou tanto que quando iniciou o jantar Rodrigo nem tinha se arrumado para a festa e somente terminou de jantar quando meu pai já estava pronto para o apito final.

Por alguns instantes eu quase acreditei na realização do meu sonho, mas tem dia que a gente chuta bola na trave, na perna do goleiro, na mão do juiz, na orelha do zagueiro, na barriga do bandeirinha e até na pereba do dedão mesmo usando todas as proteções fisicas e espirituais possiveis, mas não fazemos o infeliz do gol. E foi assim que aconteceu naquele dia, eram mais duas bolas chuverinhos para minha coleção.

Fernando e Andrevan já estavam disputando quem colocava mais docinhos no bolso da bermuda, quando minha avó vendo aquela cena reclamou:

- Parem com essa confusão esses meninos! Dá aqui esses docinhos e da próxima vez tragam uma sacolinha de casa.

Fernando como não saia sem deixar a dele, com a maior cara dura, respondeu a minha avó:

- Pode ser a bolsa de minha mãe também?

Meu pai vendo o inicio da confusão anunciou:

- Obrigado todos pela presença, mas estamos encerrando a festa antes que meu querido filho tenha pesadelos com bolas chuverinhos.

Todos começaram a sorrir até que Hux não perdeu a oportunidade e completou:

- Que nada Tio esse menino vai ser um grande jogador de futebol!!!!

Naquele momento eu descobria meu verdadeiro Dom. Começava a aprender que na vida tudo tem uma explicação e a entender o sentido da frase "Deus escreve certo por linhas tortas".

domingo, 3 de abril de 2011

O Dom parte 7

Tadeu já estava melhor quando Tia Maria José chegou com Nanda, Carlinha, Marola e Pililin. Fui receber minha Tia, meus primos e meu presente com muito carinho. Mas como já sabia que minha Tia prezava muito pela nossa beleza - nossa beleza, falando por todos os sobrinhos - já havia desconsiderado receber meu tão esperado presente. Meu pai sempre me ensinou a nunca pedir presente aos meus Tios e isso atrapalhava todos meus planos, pois minha Tia nunca iria adivinhar o que eu tanto queria. Ganhei uma linda camisa de minha Tia e entreguei a minha mãe para guardar em um lugar especial, pois o aniversário de Andrevan já estava chegando e aquele presente seria muito útil no dia.

Marola e Pililin ainda se tornariam meus primos-companheiros mais novos. Eu com 7 anos, Tadeu com 5, Carlinhos-Marola tinha apenas 3 e Quinho-Pililin ainda não havia completado seu primeiro aniversário. Nessa época ainda não tinha conquistado a confiança de minha Tia para levar os meninos num passeio às escadarias do Bloco 80. Mas poucos anos depois eles se tornariam meus principais dicípulos, pois eu precisaria de novos companheiros para propagar minhas grandes experiencias adiquiridas com o passar dos anos. Kinho ainda não era Pililin, mas Carlinhos naquela noite viraria Marola.

O responsável pelo apelido Marola, tinha acabado de chegar. Era Juari acompanhado de mais um presente para alegrar minha noite. Dei um abraço no meu amigo e recebi o presente com todo carinho, já reconhecendo de longe o conteúdo daquele embrulho manjado, outra bola chuveirinho. Era a quinta bola chuveirinho que eu tinha ganhado naquela noite e com mais uma bola eu já poderia entrar para o livro dos recordes. Olhei com uma cara meio desanimada e Juari sem entender nada me perguntou:

- Que aconteceu Onda no Mar? Porque esse desanimo numa festa super legal?

- Nada não Juari, só estou um pouco cansado de tanto dançar as músicas de Sidney Magal que meu primo Hux pediu. Ele está tentando ensinar salsa e merengue a gente. Respondi, escondendo o desanimo pelo presente.

Juari meio desconfiado, insistiu:

- Não é porque te chamo de Onda no Mar né?

Respondi abrindo um pouco do sorriso:

- Claro que não Juari para mim é um apelido muito legal e realmente meus cabelos quando estão grandes dão a impressão de serem ondas do mar quebrando nos corais.

Ainda completei:

- Um dia ainda serei um grande surfista e gostaria de ser conhecido pelo nome de Onda no Mar.

Foi quando minha mãe, junto com Tia Maria José ouviu nossa conversa e tratou de resolver o que ela achava que era um problema.

- Não se preocupe Tai, amanhã eu corto seu cabelo e o de Tadeu.

Tia Maria José não perdeu tempo, puxou Carlinhos e disparou:

- Salete se tiver um tempinho pode cortar esse cabelo de Carlinhos e o de Marquinhos também? Você corta muito bem!

- Claro minha irmã é só trazer eles amanhã lá pela tardezinha. Respondeu minha mãe toda feliz com o maior dos elogios.

Aquelas palavras de minha mãe fizeram Andrevan e Fernando levarem a mão direita em suas testas como sinal de repúdio e preocupação, pois eles semprem insistiam para que eu não deixasse minha mãe cortar meu cabelo, mas no fundo no fundo eles tinham inveja de não ter um salão exclusivo dentro de suas casas.

Juari foi apresentado a Carlinhos, que tinha os cabelos um pouco menos ondulados que o meu, quando disparou:

- Se Tairone é Onda no Mar, você vai ser Marola...

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Dom parte 6

Aquele dia começava a ficar esquisito. Milagres estavam acontecendo, pois nunca na história desse país, como dizia Lula, os irmãos Caverna haviam levado um presente para um aniversáriante além de um "Peba". Mas eles eram exceções na casa de Tia Janete, pois minha querida Tia e adoráveis primas, eram exemplos de generosidade e nunca deixavam um aniversário passar em branco. Nossas familias se misturavam como salada de fruta, onde tinha laranja(Eu), tinha mamão(Hex), tinha limão(Tadeu), tinha kiwi(Hux), tinha morango(Hadija), tinha uva(Cacá), tinha manga(Péu), tinha cereja (Tati) e tinha melancia (Mima). Era a mais animada salada de fruta do planeta preparada por minha Mãe e Tia Janete. Como Tia Janete era uma segunda mãe para mim, isso me credenciava a ter Hux como irmão mais velho e referência, eu sempre observava o que ele fazia e nunca repetia, e Hex como segundo irmão mais novo, onde eu dava bons conselhos para ele não fazer igual a Hux.

Recebi o presente de Hux em uma cena emocionante. Aquele momento me fez por alguns instantes esquecer do meu tão desejado presente. Abri o presente e para minha surpresa no meu horizonte se abrira mais uma porta. De 3 portas que eu me recusava a atravessar surgia mais 1 que enchia meus olhos de alegria, era a Porta da Esperança. Como dizia Silvio Santos, eu gritei:

"Que se abram as Portas da Esperança!!!"

Quando a porta se abriu, uma raio de luz branca tomou conta de toda a festa deixando transparecer o mais novo LP do cantor de Salsa Sidney Magal. Eu acabara de ganhar minha maior arma para combater Fofão, Xuxa e Turma do Balão Mágico, mas a primeira batalha eu já havia perdido, não a guerra.

Depois de todo aquele esforço eu não poderia interferir no futuro de meu irmão trocando o LP do Fofão pelo de Sidney Magal. Por alguns instantes eu deixei de acompanhar seu desempenho e quando voltei os olhos em sua direção ele já estava rodopiando como um pião. Todos estavam impressionados com a desenvoltura de Tadeu, quando de repente ele se esbagaçou no chão. Enquanto uns aplaudiam, outros corriam em sua direção para acudi-lo. Era o momento mágico de sua vida, ele atingira o maior de todos os seus sonhos, ser um grande dançarino. Aquilo me enchia de orgulho, ter o maior dançarino de todos os tempos como meu irmão. Mas algo ali não estava cheirando bem, em todos os sentidos. Tadeu tinha apenas 5 anos de idade e estava me lembrando uns senhores mais velhos que comiam manteiga dizendo que era queijo no coqueirinho. Quando perguntei se ele estava bem. Ele só sabia dizer uma frase:

- Queeeeeeeeeeeero meu uguinho gango, meu uguinho de gongô!

Todos na festa passaram a olhar uns aos outros na tentativa de desvendar aquele enigma. Quando Andrevan levantou completammente desanimado e foi em direção a sua casa. Ninguem estava entendendo aquela cena, quando o mesmo retornou à festa portando um objeto não identificado. Aquela expressão facial de Andrevan deixou todos comovidos na festa, quando com os olhos em lágrimas ele foi em direção a Tadeu, entregou um velho ursinho marrom de botas pretas que guardava em sua casa a mais de um ano e lamentou:

- Eu sabia que um dia ele ia pedir meu ursinho Nonô de volta.

Naquele momento a festa para Andrevan tinha chegado ao fim, pois o Ursinho Nonô era sua companhia inseparável nos momentos de repouso noturno e sem ele as noites se tornariam muito mais longas, até que Tadeu num gesto brusco empurrou o ursinho de volta aos seus braços devolvendo a Andrevan a alegria que antes reinava no seu rosto e tentou novamente:

- Quero meu sudinho de mogango

O mistério chegou ao fim. Minha mãe nunca tinha feito suco de morango lá em casa, mas aquela frase vinha acompanhada de uma voz diferente e um cheiro forte azedo. Começamos a ficar preoculpado com o tal suco de morango, quando corri para a cozinha. Era lá onde estava o motivo daquele desempenho todo de Tadeu. Sabia que 2 dias eram pouco tempo para Tadeu se tornar aquele espetacular dançarino. Quando na mesa percebi uma garrafa vazia diferente das de sucos que existiam lá em casa. Era a garrafa de vinagre que minha mãe havia comprado para preparar a salada...

sábado, 29 de janeiro de 2011

O Dom parte 5

Ainda faltavam chegar algumas pessoas para a minha festa, mas as chances de eu conseguir meu tão esperado presente iam diminuindo. Fui até a janela para ver se tinha algum convidado chegando, mas aquele silêncio e vazio na rua me deixava cada vez mais apreensivo. Percebendo minha desanimação e como muitos convidados já haviam chegado, minha mãe pediu a Cacau para colocar uma música animada num tom bem agradável.

Naquela época meu universo musical se reduzia a 3 cantores famosos: Fofão, Xuxa e a Turma do Balão Mágico. Como lá em casa só existia uma vitrola, era uma guerra entre Tadeu, que gostava do Fofão, Tati, que gostava de Xuxa, e Cacau, que gostava da Turma do Balão Mágico. Para tentar organizar aquela confusão meu pai estabeleceu uma regra: cada um podia escutar um disco por vez e apenas nos finais de semana. O problema era que não existia um limite de rodadas e eles transformavam aquele momento na competição mais acirrada que já havia presenciado nos ultimos tempos. Não bastava ter que escutar as mesmas 36 músicas, 12 de cada LP, várias vezes por dia, eu tinha que presenciar e avaliar a performance de cada um deles durante todo o final de semana.

Tadeu era o mais rápido dançarino que eu já havia visto, dançava numa velocidade de 100 rotações por minuto (RPM) enquanto o disco tocava a 45, e a cada nova rodada de Fofão ele sempre voltava dançando mais rápido. Aquele fato me impressionava tanto, que me levava a pensar que nos intervalos entre a execução do seu disco favorito ele treinava para fazer mais bonito e tirar onda com a cara das meninas. Aquilo me enchia de orgulho, ter um irmão tão comprometido com a dança. Eu como irmão mais velho começava a traçar um futuro para ele, iria transformá-lo no mais rápido dançarino que o condominio já viu. Mas aquele meu sonho não era uma tarefa fácil, não pelo fato de não existir competições de dançarinos mais rápidos, mas simplismente pelo fato de que Tadeu sempre estava aprontando alguma coisa e algo não estava cheirando bem.

Tati tinha uma voz linda, eu só não conseguia entender porque ela afinava a voz quando ouvia o LP de Xuxa. Ver aquela cena de Tati cantando e dançando como Xuxa me deixava desapontado, às vezes me entristecia tanto que eu procurava o silencio do meu quarto, quando Tadeu não estava por perto, mas em poucos minutos eu lembrava que nunca deviamos desistir dos nossos sonhos por mais difíceis que eles podessem parecer e voltava a enfrentar um dos desafios de minha vida, aplaudir a performance de Tati, incentivando o grande sonho dela que era ser uma das paquitas de Xuxa. Tatiuxa tinha um grande aliado para alcançar seu tão desejado sonho, meu pai. Por mais que ninguem acreditasse que ela chegaria a ser uma Paquita um dia, meu pai sempre buscava olhar o lado positivo das situações e chamava ela de "Minha Filha Lora", apesar dela ter cabelos castanhos escuros. Aquela emoção tomava conta de todos lá em casa, pois era a maior prova de amor que meu pai demonstrava por ela.

Cacau era apaixonada pela Turma do Balão Mágico, toda vez que tocava seu disco favorito ela vestia a roupa de Simoni e eu como irmão cobaia tinha que me vestir igual a Jairzinho. Era o pior momento do final de semana. Enquanto eu não aguentava mais aquele troca-troca de roupa e escutar as mesmas músicas o tempo todo, para ela era como se o disco tivesse acabado de sair da fábrica. Eu não entendia como Cacau conseguia escutar a mesma música um milhão de vezes e reagia da mesma forma quando escutava novamente. Quando a música era triste ela chorava, quando era alegre ela dançava.

Por um bom tempo eu passava longe da radiola de lá de casa, ela fazia parte dos meus piores pesadelos, mas a minha preoculpação naquele dia com meu tão esperado presente não chegou a ser abalada quando Cacau seguiu a recomendação de minha mãe e colocou o seu disco favorito para tocar. Paciencia, eu precisava ter um pouco mais de paciencia.

Minha mãe tinha razão e a festa começou a ficar mais animada. A música estava tocando, os meninos dançando, os mais velhos conversando quando de repente a música foi interropida por alguns instantes. Todos viraram para olhar o que tinha acontecido com a radiola e era ele mesmo que estava lá. O pequeno Tadeu olhou para todos com aquela carinha de "É a minha vez" e colocou seu disco favorito para tocar. Estava ali o grande momento esperado mim para dar um empurrão na carreira de meu irmão. Eu tinha a tarefa de apresentar aos convidados o mais rápido dançarino de todos os tempos. Chamei Tadeu no canto e lhe disse:

- Essa é sua chance de mostrar tudo que você treinou nesses ultimos meses. Sai que é sua Taffarel, ops... Tadeu.

A música começou a tocar e Tadeu a dançar, mas ele estava usando a técnica de ir aumentando aos pouquinhos a velocidade e o tom da música. Começou numa velocidade de 80 RPMs e um tom baixo. Mas o interessante que a mudança de velocidade dele era precedida de uma ida à cozinha quando ela estava vazia. Depois de 5 idas e voltas na cozinha ele já estava a uma velocidade de 150 RPMs e o Tom da música era tão alto que não se escutava mais nada naquela festa, porém nada conseguia chamar a atenção dos convidados naquele momento além de Tadeu. Todos queriam saber até onde ele chegaria. Quando de repente, mesmo com aquele som ensurdecedor na festa, todos escutaram uma voz vindo do bloco 37 do condominio, que ficava a 3 quadras de distância do bloco 80:

- Abre a porta Tairoooooombrêe, que daqui a 10 minutos estou chegando....

Era meu grande primo Hux Caverna. A presença dele numa festa e de seu irmão Hex Caverninha só trazia agitação. O problema era que minhas chances de conseguir meu tão esperado presente diminuiam mais um pouco, porque Hux e Hex em todos os aniversários que iam só davam um "Peba" na cabeça de presente, hoje conhecida como "Pedala Robinho", e eles foram os próximos a chegar...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Dom parte 4

Inacreditavelmente, era essa palavra que me incomodava naquele momento. Em menos de 5 minutos ganhei 4 presentes e eram 4 bolas de futebol chuveirinho. Chuveirinho era a bola de futebol do momento para a criançada pois era leve, resistente e existiam de várias cores: amarelo com verde, azul com branco, vermelho com branco e preto com branco. Os meninos podiam tentar me enganar com a conversa de que aquele era o melhor presente que poderiam ter me dado, mas meus conhecimentos eram mais avançados do que eles imaginavam.

Naquele mesmo dia estavamos eu e Fernando batendo papo na janela dos apartamentos, depois explico melhor essa nossa atividade diária, quando a mãe dele pediu para que fosse ao mercadinho comprar uma melância. Como Fernando tinha uma pequena rixa com os meninos que cobravam favor na frente do mercado me convidou humildemente para acompanha-lo. Como ainda não era sócio-administrador da Musculito, tive que gritar da janela de minha casa por Andrevan, nosso vice guarda-costa, já que Mario havia saído com a Mãe para o shopping comprar um presente para ele e esquecer o meu como já contei anteriormente. Descemos todos, cada um de seu apartamento, até que seu André chamou por Andrevan:

- Andrevaaaan, coloque esse boné para você andar como um rapaz mais arrumado.

Andrevan voltou em direção a janela do seu apartamento e respondeu:

- Certo painho, pode jogar daí que eu seguro aqui.

Seu André atirou a boné pela janela e Andrevan como um tigre pulou para segura-lo. Parecia perfeita aquela cena igual a Jack Chan pulando de uma calçada para outra num filme de ação, mas apesar do nome parecido não era Jack Chan e sim Andrevan quem estava ali e também não existiam 2 calçadas e sim uma calçada e um jardim com uma árvore enorme no meio com galhos que chegavam ao quarto andar daqueles prédios. Andrevan se arrebentou todo quando deu de cara com a árvore. Aquele pequeno acidente havia deixado Andrevan debilitado e como ele não tinha mais como fazer nossa cobertura no mercadinho, pedimos a ele para retornar a sua residencia e tratar dos pequenos machucados.

Fernando também estava com seu boné e como os dois disputavam quem tinha o melhor boné, fiquei com a impressão que Andrevan havia esquecido o boné de proposito para poder fazer valer aquela linda cena contracenada com seu Pai. Seguimos eu e Fernando em direção ao mercadinho, quando ele parou olhou para mim com uma cara de espantado e aí eu pensei "corre para quem tem perna". Comecei a correr, pois lembrem que ainda não era sócio-administrador da Musculito, quando Fernando gritou:

- Espera que eu só esqueci a sacola para colocar a melancia.

Aquilo foi um alivio para minha alma, pois achei que os meninos do mercadinho estavam atrás de nós. Voltamos até o bloco 79 onde Fernando morava e ele chamou sua mãe:

- Minha mãe me arrume uma sacola aí para eu colocar a melancia.

Dona Zuleide chegou até a janela olhou para ele com uma certa preoculpação e respondeu:

- Meu filho seja mais esperto use seu bonezinho como sacola.

Fernando olhou para mim e concordou com Dona Zu:

- Porque não pensei nisso antes.

Seguimos novamente em direção ao mercadinho e ao chegar lá para meu azar tivemos uma grande supresa. Havia uma faixa informando de uma grande promoção:

"SÓ HOJE, COMPRE 10 PÃES E GANHE UMA CHUVEIRINHO DO MOMENTO"

Aquela promoção bem no dia do meu aniversário não cheirava bem...

domingo, 26 de setembro de 2010

O Dom parte 3

A festa já estava ficando boa, já tinham chegado Andrevan, Guinho, Rodrigo e Mario, mas faltava muita gente. Um pouco de tempo depois chegou uma galera. Na frente Fernando, conduzindo Daniel, Juninho e Alan. Fernando era o mais chato e marrento da turma, vivia pirraçando Tadeu e ninguem conseguia controlar os impulsos dele. Todo dia era uma confusão com um da turma ou com os meninos mais velhos e como ele era o mais velho da nossa geração, a gente tinha que obedecer sempre a ele. Ele e Andrevan disputavam o controle da turma, sempre ganhava quem tinha o melhor brinquedo, o melhor video game, a melhor bicicleta ou a melhor camisa da seleção, mas a realidade é que eu era o grande cacique da tribo pois tinha algo que impressionava a todos da turma que eram as grandes idéias. Fernando também era o mais limpo da turma, sempre perfumado, com o cabelo penteado para o lado e roupas passadas chamava a atenção das meninas, todas chamavam ele de fresquinho. Era muito responsável também, o tempo todo ficava nos passando ensinamentos. Ensinava que não podiamos pisar descalços no chão sujo, quando ele tropeçava e o chinelo soltava do seu pé, para não suja-lo pulava como Saci até poder calça-lo novamente e aquilo nos impressionava. Quando todos decidiamos brincar de pega-pega, ele nos ensinava que o suor não fazia bem ao corpo e que deviamos sempre estarmos cheirosos e arrumados. Fernando, como nosso exemplo, nunca esquecia de levar um presente para algum amigo no dia do aniversário e se encontrasse com alguem que tivesse esquecido ele o lembrava dessa responsabilidade e foi aí que consegui meus primeiros presentes.

Recebi primeiro o presente de Fernando e depois o recebi na festa, pois naquele momento o que importava era o presente já que tinha muitos amigos na festa e nenhum havia lembrado de levar um presente. Porém algo me dizia que meu tão esperado presente estava longe de chegar. Mas estava com sorte, pois como Fernando encontrara com Daniel, Juninho e Alan, ele os fizeram lembrar de ir no mercadinho ao lado do nosso condominio comprar meu presente e para que eles não voltassem a esquecer ficou de plantão na entrada do edifício esperando-os voltar para entrarem todos juntos na festa com os presentes. Abri o primeiro presente e estava certo, não era o meu tão desejado e obcecado presente. Era uma linda bola de futebol. Escondi a tristeza no meu rosto para agradecer o presente ao meu grande amigo, como meu pai sempre havia me ensinado, que um amigo vale mais que um milhão de presentes. Mas minhas esperanças continuavam e ainda tinha 3 novas chances de conseguir meu tão esperado presente.

Estava feliz com a presença de Daniel, pois não esquecerá do meu presente. Para mim era um presente perdido porque ele sempre esquecia de levar nos aniversários, mas eu dei sorte dele encontrar com Fernando à caminho da festa, que fez questão de lembra a ele de comprar meu presente e de avisar que sem presente ele não ia entrar. Daniel era o mais divertido da turma, nos impressionava o fato dele brincar o tempo todo. Brincava de manhã com quem estudava à tarde, brincava à tarde com que estudava de manhã e brincava a noite com todo mundo. Recebi aquele lindo presente e tive uma sensação estranha de estar vivendo um mesmo momento da minha vida novamente. Abri o presente e era uma linda bola de futebol. Escondi a tristeza no meu rosto para agradecer o presente ao meu grande amigo, como meu pai sempre havia me ensinado, que um amigo vale mais que um milhão de presentes. Mas minhas esperanças continuavam e ainda tinha 2 novas chances de conseguir meu tão esperado presente.

Juninho me cumprimentou com um abraço, me entregou o presente e foi entrando para curtir a festa. Era o mais esquisito da turma, mas as meninas sempre davam um jeito de achar ele o mais bonito. Uma vez fizeram um concursos do garoto mais bonito da turma e ele ganhou, pois só deixaram ele e Daniel se inscrever. Todos da turma tentaram se inscrever mais não conseguiram pois o horário de inscrição era de 10 horas da manhã até às 10 horas e 10 minutos da mesma manhã e todos os outros candidatos estavam na escola. Abri o presente de juninho de olhos fechados para ver se aumentava minha sorte e tive uma grande surpresa. Era uma linda bola de futebol...

Ainda faltava o presente de Alan e naquele momento lembrava de um velho ditado "Azar no presente (Ops ...no jogo), sorte no amor". Era mais uma linda bola de futebol.